Na última semana tivemos a notícia do episódio de falha de segurança alarmante no mercado financeiro: um operador de TI da empresa que atua como intermediária entre instituições financeiras e o Banco Central foi preso por facilitar um ataque hacker ao sistema do PIX. O prejuízo estimado pode chegar a R$ 1 bilhão.

Esse caso não é apenas sobre falha técnica. É sobre falha humana — e, mais profundamente, sobre falha ética.

A fragilidade humana: o vetor mais previsível (e evitável)

Por mais que a tecnologia avance, ela sempre dependerá de pessoas. E pessoas, por natureza, são suscetíveis a pressões, tentações, distrações e, em alguns casos, corrupção. A engenharia social continua sendo uma das ferramentas mais eficazes dos cibercriminosos porque explora justamente isso: a vulnerabilidade humana.

Mas o que leva alguém a trair a confiança da empresa? A resposta raramente é simples. Pode ser ganância, ressentimento, medo, ou até mesmo a sensação de impunidade. E é aí que entra um dos pilares mais negligenciados da segurança organizacional: a cultura de ética e integridade.

Ética e integridade: os verdadeiros firewalls humanos

Empresas que investem apenas em tecnologia, mas negligenciam a construção de uma cultura ética, estão construindo castelos sobre areia. A integridade não é um valor abstrato — ela se traduz em decisões cotidianas, especialmente quando ninguém está olhando.

Mas como fortalecer esse pilar invisível?

  • Recrutamento com foco em valores: Ética começa na contratação. Avaliar o alinhamento de valores desde o início é tão importante quanto avaliar competências técnicas.
  • Códigos de conduta vivos: Não basta ter um documento formal. É preciso que os princípios éticos sejam discutidos, exemplificados e incorporados no dia a dia.
  • Ambiente de confiança psicológica: Colaboradores precisam se sentir seguros para reportar comportamentos suspeitos sem medo de retaliação.
  • Reconhecimento e valorização da integridade: Celebrar atitudes éticas com o mesmo entusiasmo com que se celebra metas batidas ou inovações implementadas.
  • Liderança exemplar: A cultura ética é moldada pelo exemplo. Líderes que agem com transparência, responsabilidade e coerência inspiram comportamentos semelhantes.

E quando falamos na segurança da informação, está não é responsabilidade exclusiva da área de TI. Ela é transversal, estratégica e profundamente humana. A verdadeira blindagem começa quando cada colaborador entende que proteger dados, sistemas e reputações é parte do seu papel — e que agir com integridade é inegociável.

A ética é o antivírus da alma corporativa

O caso do ataque ao Banco Central é um alerta, mas também uma oportunidade. Uma oportunidade para as empresas repensarem seus investimentos em segurança, indo além da tecnologia e olhando para dentro: para sua cultura, seus valores e seus líderes.

Porque no fim das contas, a pergunta mais importante não é “qual é o sistema de segurança da empresa?”, mas sim: “Qual é o sistema de valores da empresa?”.

Monica Bressan