Desde o início da pandemia esse é um tema que temos ouvido bastante, contudo, é importante entender que não é algo novo e nem uma doença tão recente. Com a revolução industrial e a exploração do trabalho operário já se nota o esgotamento físico e mental nas pessoas em ambiente fabril. A crítica social feita por Charles Chaplin em seu filme Tempos Modernos nos mostra que o alienamento e o tratamento deplorável dos operários são amostras do que se viu ao longo dos tempos, embora ficção retrata trabalhadores em longas jornadas e com movimentos repetitivos que buscavam a eficiência nas tarefas e o aumento de produção. Uma das cenas ícones do filme mostra o empregado andando parafusando tudo que encontra, já numa amostra de neurastenia, que significa esgotamento físico e mental.

Podemos observar várias tarefas que têm essa mesma forma de trabalho e que podem trazer doenças de movimento repetitivo que invariavelmente causam LER – Lesão por Esforço Repetitivo e, em muitos casos, irreversíveis.

Na contemporaneidade as doenças laborais estão alinhadas às extensas horas de jornada, acúmulo de tarefas, desvios de funções e ambientes tóxicos, seja físico ou mental.

A palavra burnout significa “queimar” e em português comumente chamamos de esgotamento, cujos estudos iniciaram nos anos 1960, embora Freud já abordasse o tema como neurose ou neurastenia, contudo não associado ao ambiente de trabalho e sim acontecimentos que causam angústia e esgotamento emocional.

A síndrome do esgotamento físico e mental pode ser produzida pelo estresse crônico principalmente alinhados aos ambientes laborais, assim como pode trazer diversos sintomas físicos ou psicossomáticos e, inclusive, podendo ser o motivo de afastamento dos profissionais.

O alerta deve vir com falta de motivação, dores físicas sem explicação ou diagnóstico médico, desânimo constante, irritabilidade frequente, choro sem motivo, insegurança sem causa aparente, sensação de incompetência, negatividade constante, insônia e outros tantos sintomas que devem ser percebidos por quem vivência e ainda pelas pessoas ao redor. As organizações têm uma responsabilidade grande em cuidar das pessoas que estão a seu serviço e a área de gestão de pessoas precisa de cuidado para lidar com situações de esgotamento.

Cuidar de pessoas é tão importante quanto remunerar, motivar, avaliar e desenvolver. Trago aqui uma reflexão para as organizações, gestores e profissionais das diversas áreas quando e como notar que algo está saindo do controle? Ou, ainda, quais ações as organizações têm promovido para cuidar da saúde física e mental?

Chefes tóxicos, equipes incentivadas a competir de forma desmedida, ambientes disfuncionais podem ser um dos causadores, bem como a cobrança excessiva de seus pares. Adoecer as pessoas, além de ser algo negativo pelo aspecto humanístico, é, também, uma questão que levará a outros grandes problemas como afastamentos, rotatividade, queda de produtividade e prejuízos financeiros.

Entretanto, é essencial o olhar humano para as relações laborais e ainda se antever com ações e projetos voltados para ergonomia, saúde mental, atividades físicas e pesquisa de clima organizacional, bem como setor de compliance independente que possa receber denúncias e opinar no código de conduta das organizações. Convido para a reflexão em qual a responsabilidade da organização?

Márcia Reis

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